26.9.12

Pneus

2 pneus gretados = Chumbo na inspecção
:(

13.9.12

Pais heróis

Por Inês Teotónio Pereira

A grande prova de maturidade de um pai é quando ele aceita o filho tal como ele é. É nessa altura que ele se torna plenamente pai. Daqueles pais que quase só existem nos filmes da Disney, ou que vimos de tempos em tempos num restaurante e ficamos pasmados a olhar. Os pais que assumem e aceitam que o filho, antes de ser seu filho, é uma pessoa independente dele, absolutamente autónoma e que até pode ser completamente diferente deles, são os genuínos pais heróis. São o John Wayne dos pais: um homem valente, confiante, sereno, determinado e amigalhaço. Um exemplo.
Os filhos destes pais são todos felizes. São irritantemente valentes, confiantes, serenos, determinados e amigalhaços. São exactamente aquilo que querem e, quando chegam a casa, ninguém os chateia. Estão sempre irritantemente bem dispostos e de bem com a vida e com o mundo. (...)
Eu admiro imenso os pais que não se importam nada que os filhos sejam completamente diferentes deles. Por exemplo, admiro imenso aqueles pais todos certinhos e lavadinhos que não se importam nada que o filho ande na rua com os cabelos até aos pés e por lavar há dez anos, ou que tenha as orelhas e o nariz com mais furos que um passador; da mesma forma que admiro profundamente os pais janados e alternativos que não se ralam nada que o filho seja fã de badmínton e que prefira ficar a ler livros sobre o ecossistema das formigas a ir com os amigos para o Boom. (...) 
Estes pais são uma raridade. A maioria dos pais acha que os filhos são uma parte de si, tipo braços ou pernas, e a prova disso é que quando eles sofrem, nós também sofremos, e quando eles são elogiados, nós agradecemos. Eles são nossos. E ´r por serem nossos que têm de ser como nós. Se até o nariz é igual...emocionalmente, é assim. Não há nada a fazer. No filme a "Árvore da Vida" ouvi esta frase dita por um pai roído de remorsos pela sua relação com o filho: "Eu fi-lo sentir a minha vergonha." Está aqui tudo: a vergonha pelos erros, pelas diferenças, pelos defeitos do filho e a convicção de que ele tem de conhecer essa vergonha, que tem de sentir essa vergonha para se corrigir. Tipo castigo. A maioria dos pais é assim, com maior ou menor intensidade, todos temos em algum momento vergonha de qualquer coisa do nosso filho. E o pior é que não o escondemos. E passamos esse fardo para as costas deles. Sem piedade, com um bilhete a dizer: "Olha, corrige-te."
No dia em que os pais percebem que os defeitos e as qualidades dos filhos são deles, não são herdadas, que os sucessos e os fracassos dos filhos são pessoais e intransmissíveis e que os seus gostos são tão aleatórios quanto a cor do cabelo, começam a olhar para os filhos como pessoas e não como suas obras. Só nesse dia é que se tornam pais; até lá, somos só parvos. (...)
in i (28.08.2012)

Banda Sonora - 106

Trovante - Saudade

10.9.12

foto daqui

Há sempre alguém que nos diz tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Há...saudade
Trovante

"As palavras também fazem amor"

Por José Luís Nunes Martins

Se é fácil concordar com a ideia de que as palavras podem fazer grandes males, por que razão não são vistas como precursoras do maior bem? Afinal, sendo leves como o vento e fortes como o mar; as palavras, e os silêncios entre elas, são capazes de trazer e levar Deus, de criar e destruir o amor... (...) As palavras mais ricas não são necessariamente as literárias de Nobel, mas as autênticas, as que trazem consigo luz, um sentido para a vida. Neste caso, são simples. Só o que conseguirmos dizer a uma criança pequena, sem equívocos nem adornos, é realmente verdade. Tudo o mais é... pior que o silêncio.
Há momentos em que explodimos, momentos em que a vida se ilumina por uma claridade de outro mundo. O amor aparece. Num olhar. Numa palavra simples que traz consigo uma intimidade toda, que transforma o mundo e inaugura um novo futuro. (...)
O conceito de amor é tanto mais definido e claro quanto mais sentimentos considerados vizinhos englobar, tais como amizade, esperança, fé, saudade, paixão, etc., mas que num amor autêntico se fundem numa só realidade. Um só sentir. Em mais do que um coração.
O amor também confunde, desordena e agita. Porque não é a regra, mas uma excepção. (...) O amor verdadeiro é tranquilo como um céu azul, apesar de conter e palpitar trovoadas de esperança.
Todas as palavras são supérfluas se não vierem do fundo do coração, pois quando não trazem essa luz apenas aumentam a escuridão. A maioria dos desentendimentos entre as pessoas deve-se às palavras (...)
O amor capaz de felicidade não é um desejo, porque não visa a sua própria satisfação, mas sim uma forma de ser. Sendo, simplesmente. Não busca capturar o outro para dentro de si, mas tão-somente conseguir que quem o sente seja quem é. Como se quem ama se desse conta de que é apenas a metade da construção de um verdadeiro sorriso.
in i (25.08.2012) 

LXXIII

Passado se fosse bom era presente.
Clarice Lispector